Papa João IV: o defensor dos cristãos nos Balcãs e o combate ao monotelismo
O Papa João IV governou a Igreja de 24 de dezembro de 640 até à sua morte, a 12 de outubro de 642, sucedendo a Severino. O seu breve pontificado ficou marcado pela oposição firme ao monotelismo, pela defesa dos cristãos perseguidos na região dos Balcãs e pela preocupação em preservar a ortodoxia doutrinária em tempos de tensão com o Império Bizantino.
Nascido em Dalmácia (atual Croácia), João IV foi o primeiro papa originário daquela região. Filho de um homem chamado Venâncio, teve uma formação sólida em teologia e direito canónico. Antes de ser eleito papa, ocupou o cargo de arcediago, o que o colocou em contacto direto com os desafios administrativos e doutrinários enfrentados pela Igreja.
A sua eleição ocorreu pouco depois da morte de Severino e em meio a uma crise teológica provocada pelo monotelismo, uma doutrina herética que afirmava que Jesus Cristo tinha apenas uma vontade divina. Esta posição, apoiada pelo imperador bizantino Heráclio, visava unificar teologicamente o Império, mas entrava em conflito com a doutrina tradicional das duas vontades (humana e divina) de Cristo, definida no Concílio de Calcedónia.
João IV manifestou-se com clareza contra o monotelismo desde o início do seu pontificado. Escreveu uma carta ao imperador Heráclio rejeitando a doutrina e reafirmando a crença ortodoxa, alinhando-se com a posição dos seus antecessores que haviam combatido essa heresia. Este gesto reforçou a autonomia espiritual de Roma em relação ao poder imperial, num momento em que a Igreja lutava para preservar a sua integridade teológica.
Outro aspeto notável do seu pontificado foi a sua preocupação com os cristãos dos Balcãs, especialmente na sua terra natal, a Dalmácia. A região sofria com as invasões dos ávaros e eslavos, que devastavam cidades, perseguiam populações cristãs e ameaçavam a estrutura eclesiástica. João IV organizou campanhas para enviar ajuda aos refugiados e para resgatar cristãos cativos. Também promoveu a preservação das relíquias dos santos daquela região, como forma de proteger a memória cristã e fortalecer a fé dos sobreviventes.
Em Roma, João IV mandou construir uma capela na Basílica de Latrão para abrigar as relíquias de santos dálmatas, simbolizando a sua ligação com a terra natal e a sua preocupação em manter viva a herança espiritual do cristianismo naquelas áreas ameaçadas.
O seu pontificado, embora breve, foi marcado por um forte compromisso com a ortodoxia e a caridade. Reforçou a doutrina tradicional, resistiu à pressão imperial e cuidou dos mais vulneráveis em tempos de crise.
João IV faleceu a 12 de outubro de 642 e foi sepultado na Basílica de São Pedro. Apesar da curta duração do seu governo, deixou um legado duradouro de defesa da fé e de preocupação pastoral, que seria continuado pelos seus sucessores na luta contra as heresias e na proteção das comunidades cristãs em perigo.