Papa Félix IV: o defensor da ortodoxia e da continuidade da Igreja
O Papa Félix IV governou a Igreja Católica de 12 de julho de 526 até à sua morte, a 22 de setembro de 530. Sucedeu ao Papa João I num período de forte instabilidade política, com a influência dos reis ostrogodos ainda presente na Itália. Durante o seu pontificado, enfrentou desafios tanto internos como externos, esforçando-se para preservar a ortodoxia da fé e garantir a estabilidade da Igreja.
Félix IV nasceu na região de Samnio, na Itália, e destacou-se como um clérigo de grande erudição e prudência. A sua eleição ao papado foi influenciada pelo rei ostrogodo Atalarico, neto e sucessor de Teodorico, o Grande. Após a trágica morte de João I, Félix foi escolhido para garantir uma transição pacífica e para manter uma relação equilibrada entre a Igreja e o poder secular. Apesar de ter sido favorecido pelos ostrogodos, procurou agir com autonomia e defender os interesses da Igreja.
Um dos principais feitos do seu pontificado foi a luta contra heresias que ameaçavam a unidade do cristianismo. Félix IV combateu o semipelagianismo, uma doutrina que minimizava a necessidade da graça divina para a salvação. Para reforçar a posição da Igreja, promoveu os ensinamentos de Santo Agostinho e apoiou o trabalho de monges e teólogos que defendiam a doutrina da graça.
No campo pastoral e administrativo, Félix IV demonstrou preocupação com a organização da Igreja e o cuidado com os fiéis. Restaurou várias igrejas em Roma e doou a antiga Basílica dos Santos Cosme e Damião, no Fórum Romano, consolidando a presença cristã em locais historicamente pagãos. Este ato simbolizava a vitória da fé cristã sobre as antigas tradições romanas.
Outro aspeto marcante do seu papado foi a tentativa de garantir uma sucessão tranquila para a Igreja. Temendo uma nova crise após a sua morte, nomeou Bonifácio II como seu sucessor, um ato que gerou controvérsia. Esta decisão foi vista como uma tentativa de evitar disputas eleitorais, mas foi mal recebida por parte do clero e não teve um efeito imediato, pois a tradição da eleição papal pelo clero e pelo povo ainda prevalecia.
Félix IV faleceu a 22 de setembro de 530 e foi sepultado na Basílica de São Pedro, em Roma. O seu pontificado, embora curto, destacou-se pela defesa da ortodoxia e pela preocupação com a continuidade institucional da Igreja. É lembrado como um Papa que navegou entre as pressões políticas do seu tempo, mantendo a integridade da fé e consolidando o papel da Igreja numa época de transição entre o domínio ostrogodo e a crescente influência do Império Bizantino.