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Conhecimento Hoje

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Papa Eugénio I: um pontificado de paz em tempos de conflito teológico

O Papa Eugénio I governou a Igreja de 10 de agosto de 654 até à sua morte, a 2 de junho de 657, sucedendo a Martinho I. O seu pontificado decorreu num período turbulento, marcado pelas tensões com o Império Bizantino devido à controvérsia monotelita. Embora menos combativo do que o seu antecessor, Eugénio I manteve a fidelidade à doutrina ortodoxa, ao mesmo tempo que procurou preservar a paz entre Roma e Constantinopla.

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Pouco se sabe sobre a sua origem e juventude, mas acredita-se que Eugénio I fosse romano de nascimento e tivesse já uma longa carreira eclesiástica antes de se tornar papa. Foi eleito em circunstâncias delicadas: Martinho I, embora ainda vivo, estava em exílio forçado na Crimeia, vítima da perseguição do imperador bizantino Constante II, que o considerava um inimigo por causa da sua oposição ao monotelismo. A eleição de Eugénio I terá sido, em parte, uma tentativa de apaziguar o imperador e restaurar a normalidade em Roma, que permanecia sob a influência política bizantina.

Apesar de ter sido escolhido em condições que sugeriam uma aproximação a Constantinopla, Eugénio I não cedeu em questões de fé. Desde o início do seu pontificado, deixou claro o seu compromisso com a doutrina calcedoniana, que afirmava a existência de duas vontades em Cristo – divina e humana – em oposição à heresia monotelita promovida pelos imperadores bizantinos.

Um dos momentos mais delicados do seu papado ocorreu quando o novo patriarca de Constantinopla, Pedro, enviou uma carta a Roma com uma profissão de fé ambígua, que evitava condenar explicitamente o monotelismo. Embora a carta tivesse um tom conciliador, Eugénio I e o clero romano recusaram-se a aceitá-la, considerando-a insuficiente para garantir a ortodoxia. Esta rejeição foi uma atitude corajosa, pois desafiava a vontade do imperador Constante II, que continuava a impor o monotelismo como posição oficial do Império.

Apesar da sua firmeza doutrinária, Eugénio I adotou uma abordagem mais prudente e diplomática do que Martinho I. Procurou evitar novos confrontos diretos com o imperador, mantendo uma relação de respeito formal com Constantinopla, o que permitiu a Roma algum alívio em relação às represálias imperiais. Esta postura pode explicar a relativa estabilidade do seu pontificado, num momento em que a Igreja Ocidental ainda se recuperava das tensões geradas pela perseguição a Martinho I.

Internamente, Eugénio I dedicou-se à consolidação da vida litúrgica e pastoral da Igreja. Continuou a apoiar o clero e as comunidades cristãs em tempos difíceis, reforçando a fé e a disciplina eclesiástica. O seu governo caracterizou-se por um esforço em manter a unidade da Igreja sem comprometer a integridade da doutrina, um equilíbrio delicado num período de forte interferência política.

Morreu a 2 de junho de 657 e foi sepultado na Basílica de São Pedro, em Roma. A sua memória foi venerada como a de um papa justo e prudente, que conseguiu preservar a ortodoxia e a dignidade da Sé Romana em circunstâncias extremamente difíceis.

Embora o seu pontificado tenha sido mais pacífico do que o do seu antecessor, Eugénio I é lembrado como um guardião fiel da fé calcedoniana e como um líder que, sem recorrer ao confronto direto, defendeu a autonomia espiritual da Igreja em face do poder imperial. O seu exemplo de prudência e firmeza inspirou os seus sucessores na contínua luta contra o monotelismo, que só seria formalmente condenado no Terceiro Concílio de Constantinopla (680-681).