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Conhecimento Hoje

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Papa Bonifácio II: o primeiro papa germânico e a controvérsia da sucessão

O Papa Bonifácio II governou a Igreja Católica de 17 de setembro de 530 até à sua morte, a 17 de outubro de 532. Foi o primeiro Papa de origem germânica, sucedendo a Félix IV num contexto de forte instabilidade dentro da Igreja, marcado por disputas sucessórias e tensões entre o clero romano.

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Bonifácio II nasceu de origem ostrogoda, um facto incomum para a época, já que os papas anteriores eram geralmente de ascendência romana. Foi nomeado diretamente por Félix IV como seu sucessor, um gesto que visava evitar conflitos na eleição papal. No entanto, essa tentativa de garantir uma transição pacífica acabou por gerar exatamente o oposto: uma crise sucessória. Parte do clero romano rejeitou a nomeação de Bonifácio II e elegeu um antipapa, Dióscoro, criando uma divisão na Igreja.

A disputa foi curta, mas intensa. Dióscoro morreu poucos meses depois da sua eleição, em outubro de 530, permitindo que Bonifácio II consolidasse o seu poder. No entanto, a sua posição inicial foi fragilizada por essa contestação, e o seu pontificado foi marcado por um esforço para restaurar a unidade da Igreja.

Bonifácio II também tentou seguir o exemplo do seu antecessor ao nomear um sucessor, Vigílio, ainda em vida. No entanto, essa decisão foi mal recebida e gerou forte resistência no clero, que se opôs à ideia de uma sucessão imposta. Perante a rejeição dessa prática, Bonifácio II acabou por retirar a nomeação e condenou oficialmente essa tentativa de designação direta de Papas pelo seu antecessor.

Durante o seu pontificado, Bonifácio II manteve uma relação estreita com o Império Bizantino e confirmou as decisões do Concílio de Orange (529), que condenavam o semipelagianismo e reafirmavam a doutrina da graça, inspirada nos ensinamentos de Santo Agostinho. Essa decisão fortaleceu a ortodoxia católica, garantindo que a influência de doutrinas desviantes fosse contida.

Bonifácio II morreu a 17 de outubro de 532 e foi sepultado na Basílica de São Pedro, em Roma. O seu pontificado, embora breve, destacou-se pelas disputas em torno da sucessão papal e pelo reforço da doutrina da graça na Igreja. O seu fracasso em impor um sucessor demonstrou que a tradição de eleição papal pelo clero e pelo povo continuava a ser um princípio essencial na Igreja, reforçando a rejeição de qualquer tentativa de transformar o papado numa instituição hereditária ou de nomeação direta.