A Revolta do Manuelinho: o episódio que iniciou a Restauração da Independência
A Revolta do Manuelinho é um dos episódios menos conhecidos, mas mais emblemáticos, da história de Portugal, marcando o início do processo que culminaria na Restauração da Independência em 1640. Este acontecimento, que teve lugar em Évora em 1637, foi o reflexo das tensões acumuladas durante o domínio espanhol iniciado em 1580, após a crise sucessória que colocou Filipe II de Espanha no trono português.
O contexto da época era marcado por uma crescente insatisfação popular. A união dinástica trouxe consigo uma forte exploração económica, com a introdução de impostos pesados e o envolvimento de Portugal nos conflitos espanhóis, o que prejudicou gravemente as finanças do reino e os interesses comerciais portugueses. No Alentejo, uma região já marcada por dificuldades económicas e sociais, estas medidas geraram um clima de grande descontentamento.
É neste cenário que surge a figura de Manuelinho, um homem simples, possivelmente um almocreve ou trabalhador rural, cujas características reais permanecem envoltas em mistério. Manuelinho teria sido usado como símbolo pelos líderes da revolta, que precisavam de uma figura carismática para mobilizar o povo. Acredita-se que ele tenha desempenhado o papel de porta-voz das queixas populares, incitando os habitantes de Évora a rebelarem-se contra as imposições fiscais e a administração espanhola.
A revolta começou com um motim em plena cidade de Évora, onde os habitantes destruíram os registos fiscais e atacaram as autoridades locais. Os revoltosos exigiam a suspensão dos impostos e o fim da opressão espanhola. Embora inicialmente limitada ao Alentejo, a agitação rapidamente inspirou outros focos de resistência noutras partes do país. Apesar de as forças espanholas terem conseguido reprimir o movimento, este episódio teve um impacto duradouro no espírito nacional.
A Revolta do Manuelinho pode ser vista como um prenúncio do que viria a acontecer três anos depois, em 1640, quando a nobreza e o povo se uniram para restaurar a independência de Portugal sob a liderança de D. João IV. Embora a revolta de 1637 não tenha tido um desfecho imediato favorável, o seu significado histórico reside no facto de ter exposto as fragilidades do domínio filipino e ter acendido a chama do desejo de autonomia.
Hoje, a figura de Manuelinho permanece uma lenda, mas o seu legado está profundamente enraizado na memória coletiva portuguesa. Este episódio lembra-nos que, mesmo perante um poder aparentemente inabalável, a resistência e a vontade de mudança podem dar início a transformações que moldam o destino de uma nação.