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Conhecimento Hoje

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A ponte submersa do Tejo: um projecto visionário do século XIX que não se concretizou

No século XIX, Portugal vivia o despertar de uma era de modernidade, marcada pelo avanço da engenharia e pela ambição de realizar grandes obras que impulsionassem a economia e o transporte. Entre os muitos projetos visionários da época, destacou-se uma ideia singular e ousada: a construção de uma ponte submersa no rio Tejo, que ligaria as duas margens, facilitando o transporte de pessoas e bens entre Lisboa e Almada. Embora nunca tenha saído do papel, este projeto representa o espírito de inovação que começava a emergir no país.

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O contexto que deu origem a esta ideia remonta a meados do século XIX, quando a capital portuguesa enfrentava grandes desafios de mobilidade. O Tejo, largo e profundo, era ao mesmo tempo uma barreira e uma via essencial para o comércio. As travessias eram feitas principalmente por barcos, mas as limitações deste método tornavam evidente a necessidade de uma ligação permanente. Inspirados pelos avanços tecnológicos que surgiam na Europa, engenheiros portugueses conceberam uma solução arrojada: uma ponte submersa, algo nunca antes tentado em Portugal.

O projeto propunha a construção de uma estrutura tubular que atravessaria o leito do rio, permitindo a passagem de carruagens e pedestres sob as águas do Tejo. Esta ponte submersa seria feita de ferro, o material revolucionário da época, e contaria com tecnologia que começava a ser explorada em outros países, como os túneis subfluviais de Inglaterra e França. A ideia era reduzir a dependência das embarcações e criar uma ligação mais eficiente e permanente entre as margens.

Apesar do entusiasmo inicial, o projeto enfrentou obstáculos técnicos e financeiros. A engenharia necessária para construir uma ponte submersa era extremamente avançada para a época e exigia recursos que Portugal, ainda a recuperar de crises políticas e económicas, não possuía. Além disso, os riscos associados a uma construção deste tipo, como a pressão das águas e a instabilidade do leito do rio, levantaram dúvidas sobre a viabilidade da obra.

Outro fator determinante para o abandono do projeto foi o surgimento de alternativas mais práticas e economicamente viáveis. No início do século XX, o foco deslocou-se para a construção de pontes suspensas, culminando na inauguração da Ponte 25 de Abril, em 1966, que finalmente concretizou o sonho de ligar Lisboa e Almada de forma permanente. Embora não submersa, esta ponte representa a evolução das ideias visionárias que começaram a ser discutidas mais de um século antes.

A ponte submersa do Tejo permanece como uma curiosidade histórica, um exemplo do espírito inovador e da ambição que caracterizaram o século XIX em Portugal. Embora nunca realizada, a sua conceção revela a vontade de superar barreiras e acompanhar os avanços da engenharia mundial. Hoje, é um lembrete de como mesmo os projetos mais visionários enfrentam os limites do seu tempo, mas deixam um legado que inspira futuras gerações.