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Conhecimento Hoje

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A incrível história de D. Sebastião em Alcácer-Quibir

A história de D. Sebastião e a sua desastrosa campanha em Alcácer-Quibir é um dos episódios mais marcantes e enigmáticos da história de Portugal. O jovem rei, conhecido pela sua determinação e pelo fervor religioso, liderou uma expedição militar em 1578 que não só resultou numa derrota devastadora, como também mergulhou o país numa profunda crise política e cultural. Este evento, que simboliza o fim de uma era e o início da União Ibérica, continua a ser um tema de fascínio e debate até hoje.

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D. Sebastião subiu ao trono ainda criança, após a morte de seu avô, D. João III, e foi criado numa atmosfera de grande devoção religiosa e militar. Desde cedo, o jovem monarca mostrou um forte desejo de protagonizar feitos heróicos, vendo-se como um cruzado moderno, destinado a expandir a fé cristã e o domínio português. Esta mentalidade, reforçada pela influência de conselheiros religiosos e militares, levou-o a planear uma expedição ao norte de África, uma região que os reis portugueses vinham tentando dominar desde o início da expansão ultramarina.

A campanha de Alcácer-Quibir, no entanto, revelou-se um erro trágico. Em 1578, D. Sebastião reuniu um exército de cerca de 15.000 homens, composto por nobres, soldados e aliados estrangeiros, e partiu para Marrocos com o objetivo de apoiar o governante deposto Abd al-Malik contra o seu rival Mulei Mohammed. Contudo, o jovem rei subestimou o poder e a preparação do exército inimigo. No dia 4 de agosto, as forças portuguesas enfrentaram uma derrota esmagadora no campo de batalha. O exército foi dizimado, e D. Sebastião desapareceu, presumivelmente morto, embora o seu corpo nunca tenha sido identificado com certeza.

O desaparecimento do rei sem deixar herdeiros gerou um vazio de poder que teve consequências profundas. Sem sucessão direta, Portugal entrou numa crise dinástica, que culminou com a anexação do país por Filipe II de Espanha em 1580, iniciando um período de 60 anos de domínio espanhol. Este evento, conhecido como a União Ibérica, representou uma perda de soberania que muitos portugueses associaram à tragédia de Alcácer-Quibir.

Apesar da derrota e da tragédia, a figura de D. Sebastião tornou-se um mito no imaginário português. O "Sebastianismo", uma crença messiânica no regresso do rei para restaurar a glória de Portugal, floresceu nas décadas e séculos seguintes. Este mito foi alimentado pela falta de provas concretas sobre a sua morte e pela esperança de um renascimento nacional. D. Sebastião passou a ser visto como o "rei encoberto", destinado a regressar em tempos de crise para salvar o país.

Alcácer-Quibir não foi apenas uma derrota militar; foi um ponto de viragem na história de Portugal. A expedição revelou os perigos do idealismo desmedido e da falta de pragmatismo, mas também deu origem a um mito que alimentou a identidade nacional durante séculos. Hoje, a história de D. Sebastião continua a ser uma narrativa poderosa, tanto como tragédia histórica como lenda intemporal, simbolizando as ambições e as fragilidades de um país em busca de glória e redenção.